Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+: histórias inspiradoras de alunos da Besouro

Estamos no mês de junho, período marcado pela celebração da diversidade e inclusão da comunidade LGBTQIA+. No dia 28 comemora-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, uma data que relembra a rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969 em Nova York. Na ocasião; lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans resistiram à violência policial e reivindicaram respeito. Por isso, preparamos uma matéria especial para contar histórias de alunos da Besouro de Fomento Social que pertencem a essa comunidade. São relatos inspiradores de pessoas que enfrentaram desafios, superaram preconceitos e realizaram sonhos. Acompanhe conosco essa jornada de orgulho e coragem.
Líder comunitário gay transforma região com o projeto Ame o Santo Amaro
Lucas, um homem cis e gay de 28 anos, nascido e criado no morro Santo Amaro, localizado no Catete, Zona Sul da capital carioca, tem se destacado como líder comunitário com o projeto Ame o Santo Amaro. O objetivo do coletivo é garantir os direitos humanos das pessoas em situação de vulnerabilidade social da comunidade. Desde o combate à fome até a inserção de mulheres trans no mercado de trabalho, Lucas e sua equipe lutam incansavelmente por um futuro mais justo e igualitário.
A família na vida de Lucas

Lucas relembra a infância em uma família matriarcal, onde sua mãe e tias o criaram com muito afeto e carinho. Essa base sólida de apoio foi fundamental para que ele se tornasse o homem que é hoje. Para ajudar sua comunidade a ter verdadeiro acesso aos seus direitos e representar as pessoas LGBTQIA+, o jovem decidiu se tornar líder comunitário.
A ideia de iniciar o projeto social Ame o Santo Amaro enfrentou inicialmente uma certa resistência por parte de sua mãe. Porém, ela logo se acostumou com a ideia e passou a apoiar a iniciativa. “No começo minha mãe se preocupou muito, pois onde moramos as ações sociais eram bem inertes, além do poder paralelo exercido pelo tráfico de drogas na região. Ela tinha medo de que eu sofresse preconceitos e represálias”, conta.
Aos 18 anos Lucas se tornou pai. Ele avalia a paternidade como uma transformação significativa em sua vida. “Hoje, o Gabriel tem 9 anos e significou, para mim, uma virada de página. Eu deixei de ser apenas um rapaz para ser um pai”, conta o jovem com orgulho. Lucas confessa que, na época, não sabia por onde começar, mas, inspirado pelo amor e educação que recebeu de sua mãe Ana, encontrou o caminho para criar e educar o jovem Gabriel.
Ame o Santo Amaro e suas frentes de atuação
Lucas iniciou o projeto Ame o Santo Amaro em 2020, focando inicialmente no combate à fome e miséria na região. Entretanto, conforme o tempo passava, ele e sua equipe perceberam que as pessoas que buscavam ajuda necessitavam não apenas de alimento, mas também de educação, cultura e acesso a direitos.
Determinado a abordar essas questões, o jovem empreendedor social ampliou o escopo do projeto, oferecendo suporte abrangente à comunidade. “Com muita luta a gente vem tentando pautar essas questões e ajudar os moradores”, conta.
Durante sua jornada como líder comunitário, Lucas teve a oportunidade de conhecer o Espaço da Juventude e participar do projeto oferecido pela Secretaria Especial da Juventude Carioca (JUVRio) em parceria com a Besouro de Fomento Social. Ele decidiu buscar capacitação, percebendo a chance de levar tecnologia e aprendizado para dentro do bairro. Lucas notou que muitos jovens da região não tinham acesso à educação de qualidade e, por isso, fez o curso com a intenção de atender às demandas sociais por meio da tecnologia.
Tecnologia social transformadora: o coletor menstrual impresso em 3D
Durante o curso de impressão 3D, Lucas desenvolveu um protótipo de coletor menstrual. Sua ideia é tornar o produto acessível a um número maior de pessoas. Ao concluir a capacitação, ele levou essa tecnologia social para a comunidade, mostrando a todos que é possível fazer a diferença por meio da inovação. Com muito orgulho, o líder comunitário de Santo Amaro exibe, na sede da organização, o coletor menstrual impresso em 3D durante as oficinas da capacitação.

Desafios e responsabilidades como líder LGBTQIA+
Como primeiro líder comunitário assumidamente gay da região, Lucas enfrentou diversos desafios. Ele sempre sentiu a responsabilidade de abordar questões que, muitas vezes, não tiveram referência em sua vida. “Trago também, por dentro, um menino que nunca teve representatividade quando era pequeno”, conta. No entanto, o exemplo que ele trouxe para a comunidade gera esperança e inspiração para muitos. Até hoje Lucas recebe mensagens de pessoas que se espelham nele, que se assumiram e se sentem representadas. Essa responsabilidade é algo que o empreendedor valoriza profundamente.
A comunidade Santo Amaro existe formalmente desde 1942, porém, apenas a partir de 2020, com o projeto social de Lucas, a diversidade LGBTQIA+ começou a ser pautada. Ele reconhece que isso, de certa forma, é triste. Mas também é uma luz para outros que desejam emergir como líderes. Lucas deseja ser uma base sólida para futuras lideranças LGBTQIA+ que continuarão trabalhando por uma sociedade mais igualitária.
Um importante recado

Lucas deixa uma mensagem de força e perseverança para todos. Ele ressalta que a homofobia é uma realidade dolorosa, que muitas vezes se apresenta de forma sutil e velada. Porém, é fundamental resistir para que outros jovens, como ele, possam dizer no futuro: "Eu consigo!" Ser um pai LGBTQIA+ é transformador para Lucas, que vê no olhar de admiração de seu filho, Gabriel, a motivação para continuar lutando por seus ideais e pela igualdade de direitos.
Assim como Lucas, outros alunos LGBTQIA+ que passaram pela Besouro têm incríveis histórias e mensagens de apoio para transmitir.
Uma jornada de resiliência

Lynn Paiva de Castro, uma mulher trans em transição, compartilha sua história de empoderamento. Nascida em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, e adotada por um casal da capital Porto Alegre, ela se entendeu trans aos 15 anos. Aos 20, teve a oportunidade de conhecer a mãe biológica, uma mulher indígena.
Por meio de sua paixão pelas artes, Lynn encontra uma forma de expressar-se e admira artistas que trazem representatividade para a comunidade LGBTQIA+. Ao falar sobre sua participação no curso Mais Diversidade — uma parceria entre a Secretaria Nacional da Proteção Global; do então Ministério das Mulheres, da Família e dos Direitos Humanos, e a Besouro de Fomento Social — ela valoriza a experiência positiva de estar cercada por pessoas semelhantes, aprendendo coisas úteis e desfrutando de um ambiente social acolhedor.
Lynn explica que nunca teve a opção de não levantar a bandeira da própria identidade, algo que não se torna uma questão para quem é cisgênero. Ela enfrentou inúmeros desafios como pessoa trans, desde abusos psicológicos e físicos até o constante desrespeito de uma sociedade hetero-cis-normativa. Apesar disso, Lynn mantém a esperança, pois encontrou uma comunidade que a acolhe e a faz perceber que não está sozinha na luta. Ela envia uma mensagem inspiradora, especialmente no Dia do Orgulho: "Não podemos perder a confiança. Nenhum de vocês está sozinho, e sempre há esperança".
Carioca, homem trans e profissional da saúde com orgulho

Matheus Rosa de Santana, um carioca de 54 anos, compartilha sua história conosco. Devido à transfobia da família, que não aceitava o gênero com o qual ele se identifica, decidiu finalmente abraçar sua verdadeira identidade. Infelizmente, isso resultou na perda de todo o contato com os parentes. “Não falo mais com ninguém, e eles nem imaginam que estou transicionando”, conta. Assim, decidido a começar uma nova vida, ele deixou o Rio de Janeiro.
Técnico de enfermagem e instrumentador cirúrgico, Matheus enfrentou alguns obstáculos, mas encontrou forças para se reerguer. Ele não tinha recursos financeiros para transferir seu registro profissional para o Rio Grande do Sul, estado no qual reside há um ano e seis meses, mas felizmente encontrou um casal de amigos que o acolheu e o ajudou a passar por essa fase difícil.
Matheus decidiu fazer a capacitação Mais Diversidade para adquirir novas habilidades enquanto resolvia essa questão. Durante o curso, ele conheceu pessoas com quem mantém contato até hoje, uma rede de apoio e amizade. “O curso me ajudou a conhecer outros trans como eu”, relata.
Ele envia uma mensagem poderosa para a comunidade LGBTQIA+: “Sejam resilientes e nunca desistam de seus objetivos”. Hoje, após mais de um ano em Porto Alegre, conquistou uma casa, dois empregos e construiu um lar acolhedor. Matheus se considera um vencedor, um homem que chegou à cidade apenas com uma mochila de roupas, mas com um objetivo claro: se tornar o Matheus que ele é hoje.
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